segunda-feira, 25 de maio de 2015

Caminhos

Ela tinha os olhos vermelhos e inchados de chorar.
–Ele vai ser filho também. Você vai criá-lo, amá-lo ou não? – perguntou entre soluços
– Vou. - respondeu de forma ríspida - Tanto quanto amaria se adotássemos um bebê, a diferença é que uma criança adotada não seria filho de nenhum dos dois, mas você não aceita a ideia de criar o filho de outra pessoa. Se o estéril sou eu, que fique pra mim a responsabilidade de criar o filho de outra pessoa!
Ela abriu a boca pra responder, mas as palavras não saíram. Ficou apenas o olhando enquanto as lágrimas quentes molhavam seu rosto.
–Eu não aceito que gere o filho de outro homem! Ou será por adoção ou não teremos filho algum.
– Você está sendo egoísta! - Ela bradou, sua crescente tristeza agora se misturava com uma raiva recém chegada. - Eu sempre sonhei gerar um filho, ver a barriga crescer, sentir os movimentos.
– Perdão. - Ele disse num tom que a fez gelar. – Perdão por ser incapaz de lhe fazer um filho e roubar de você esse sonho. Por ser egoísta a ponto de não querer ver minha esposa gerando o filho de outra pessoa. Não vou deixar mais meu egoismo entre você e seu sonho.
Ela limpou as lágrimas da face com um sorriso aberto no rosto, ele a entendia. Correu então para abraçá-lo seriam em breve uma família. Depois de tantos anos tentando, tantos exames para entender porque não conseguiam, depois do terrível diagnóstico de que ele não produzia espermatozóides suficientes nem mesmo para a inseminação, finalmente eles seriam uma família. Mas, então ela percebeu, quando ele não permitiu o abraço, o que ele queria dizer com aquilo e sentiu o coração partir em milhares de pedaços, o mundo parecia girar de forma mais devagar. Ela queria gritar mas conseguiu apenas dar um gemido sufocado de dor.
– Não! Sem você não tem família, não tem sonho. Por favor. - Ela suplicou num sussurro.
–Nossos futuros são incompatíveis. Vou deixar você ser feliz, gerar seus filhos, vou te deixar em paz pra procurar um homem que seja capaz de fazer filhos.
E com essas palavras ele encerrou a briga e a história do casal. Arrumou as malas e saiu, no meio da noite.
Ela permaneceu de pé encarando o lugar no qual ele já não estava mais, só quando ouviu o carro saindo é que explodiu em lágrimas. Naquela noite ela chorou até dormir e depois chorou todas as noites por quase um ano antes de aceitar que ele não voltaria, e que era hora de voltar a viver. Somente sobreviver já não bastava.

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