quarta-feira, 3 de junho de 2015

Caminhos - Aos Olhos Dele

Ele estava tentando ser paciente, sabia que aquela situação era passageira e que no momento em que ela voltasse a si ia perceber que não fazia sentido gerar o filho de outro homem. Desde que decidiram ser pais, ele sonhava com o rosto daquele bebe, teria os olhos azuis da avó dele, mas os cabelos negros dela, o sorriso dele, mas o queixo seria dela. Até que um dia depois de muito tentarem, e muitos exames feitos descobriram que ele não poderia ser o pai biológico, o único meio de adotarem uma criança seria inseminando nela o material genético de outro homem ou através da adoção e desde então todas as noites discutiam as opções, ele não abria mão da adoção, mas ela insistia em engravidar do filho de outra pessoa.
–Ele vai ser filho também.Você vai criá-lo, amá-lo ou não? – a pergunta dela o trouxe de volta a realidade.
– Vou. - respondeu de forma ríspida - Tanto quanto amaria se adotássemos um bebê, a diferença é que uma criança adotada não seria filho de nenhum dos dois, mas você não aceita a ideia de criar o filho de outra pessoa. Se o estéril sou eu, que fique pra mim a responsabilidade de criar o filho de outra pessoa! - ele respondeu de forma mais agressiva do que planejava.
Ela o olhava assustada e isso o encheu de coragem de falar o que estava entalado há dias.
–Eu não aceito que gere o filho de outro homem! Ou será por adoção ou não teremos filho algum.
Pronto! Aquilo encerraria a discussão.
– Você está sendo egoísta! - ela gritou com raiva e as palavras o atingiram de forma seca. Não era ele o egoísta naquela situação. Era ela quem queria que ele aceitasse a ideia de vê-la gerar o filho de outro homem, de ver no rosto de um bebê traços dela e de outro homem, era ela quem não não entendia como era difícil pra ele lidar com o fato de não poder realizar o maior sonho dela. Ela não via nada disso e ainda o acusava de estar sendo egoísta.
– Perdão. -aquela era a hora de finalmente encerrar aquela discussão.-Perdão por ser incapaz de lhe fazer um filho e roubar de você esse sonho. Por ser egoísta a ponto de não querer ver minha esposa gerando o filho de outra pessoa. Não vou deixar mais meu egoismo entre você e seu sonho.
Ela abriu um sorriso tão largo que ele teve vontade de gritar. Ela realmente não entendia, não havia nenhuma célula naquele corpo que compreendesse que ele estava magoado com ela, com a situação, com a vida. Então ela veio na direção dele, iria abraçá-lo? Não, claro que não! Ele a afastou e ao perceber o choque em seu rosto sentiu uma parte de si morrendo, mas não havia mais espaço para ele na vida dela, ele sabia disso e ela também.
– Não! Sem você não tem família, não tem sonho. Por favor. - ela gemeu.
–Nossos futuros são incompatíveis. Vou deixar você ser feliz, gerar seus filhos, vou te deixar em paz pra procurar um homem que seja capaz de fazer filhos.
Ele virou as costas e seguiu para o quarto, sentia a cabeça doer e os olhos arderem, queria chorar, gritar, xingar. Arrumou as malas o mais rápido que pode, não queria que ela o tentasse impedir. Jogou as roupas no carro e saiu no meio da noite para o único lugar que poderia lhe oferecer conforto naquela situação, a casa da mãe.