domingo, 31 de maio de 2015

Os Últimos 6 Meses - Capítulo 2

William havia escolhido um bar diferente dos que eles costumavam frequentar, não queria que ninguém os visse, principalmente se a coisa saísse do controle. Quando chegou, Beatriz já estava lá, sentada em uma mesa próxima a cerca de madeira que contornava a área externa do bar. Ela tinha os longos cabelos escuros presos num rabo de cavalo alto e usava um vestido azul que marcava cada curva do seu corpo. Os lábios pintados com um batom vermelho vivo se abriram em um sorriso quando seus olhos se encontraram com o dele.
William se sentou de frente pra ela e sentiu o estômago afundar. Estava ensaiando aquela conversa há dias, mas sempre perdia a coragem quando pensava que as coisas podiam não sair como planejado.
O plano era simples, terminar com Beatriz e pedir perdão a Renata, mas e se Beatriz fizesse uma cena ou Renata não o perdoasse? O único modo de saber era tentando.
-Então? -Beatriz quebrou o silêncio - Qual o motivo do nosso encontro? Achou um apartamento?
Seu tom de voz era leve e animado. Desde que Renata descobrira sobre a traição ela havia assumido automaticamente o papel de namorada, falava em dividirem um apartamento, viagens e até em filhos e quanto mais planos ela fazia mais William pensava em Renata e na vida que os esperava.
Estavam sem se falar há quase três semanas, apesar de ainda dividirem o mesmo apartamento, e ele já não suportava mais aquela situação. E do outro lado da história, Beatriz ficara em êxtase quando soube que a outra já sabia de sua existência e havia terminado o relacionamento, estava tão encantada com a ideia que não percebia que não haviam se encontrado desde a última vez e que se falavam apenas através de mensagens e ligações.
-Não. -Responder apenas a última pergunta lhe pareceu a melhor opção
- Pensei em pedir vinho e uma tábua de frios, não pedi ainda porque pensei que talvez quisesse outra coisa.
- Foi um erro. -A principio ela achou que ele falava sobre o pedido, mas então ela percebeu o tom em que as palavras foram ditas e contorceu os lábios Foi bom, mas foi um erro. Eu fui idiota e imaturo e nem você, nem a Rê merecem um cara assim. Desculpa, mas não vamos morar junto, nem viajar e nem ter filhos. - A expressão dela era vazia de emoções com excessão das lágrimas que lhe enchiam os olhos. Nenhum dos dois falou por um tempo
O bar ia enchendo ao redor deles. Era possível ouvir conversas, risadas, garrafas abrindo, talheres e copos sendo usados e carros passando na rua.
- Eu não planejei nada disso, sabe. - Ele disse mais pra se mesmo, enquanto olhava os carros passarem na rua. - Eu nunca tive a intenção de trair a Renata, eu flertava sempre que saía sozinho, mas era inocente. Meus amigos diziam que era questão de tempo, mas eu confiava no meu caráter e a Rê confiava em mim. E aí você chegou, com uma gargalhada alta, falando palavrão e usando uma roupa sensual, sem se importar com seu peso. Você era tudo que a Rê não era, e isso era de mais pra mim. - Ele suspirou e voltou a olhar pra Beatriz, que agora parecia confusa. - Você era perfeita pra mim na mesma medida que ela, e eu quis ter as duas. Não pensei em ninguém além de mim, mas agora quero consertar isso. Nós dois, acabamos aqui. Você é linda, interessante e bem resolvida, vai encontrar alguém que te mereça.
Ela se manteve em silêncio, as lágrimas corriam pelo seu rosto. Ela sentia a raiva crescer em seu peito, secou o rosto com as costas das mãos e o encarou. Seus olhos faiscavam.
-  Você é um babaca, William. Um filho da puta de um cínico babaca. Espero que você tenho um discurso diferente pra Renata porque ela não vai gostar da parte em que você diz que flertava sempre que saía sozinho. Você veio com esse discursinho de merda se colocando como um coitadinho que agiu por impulso, mas esqueceu que eu não te dei confiança no dia que nos conhecemos, que eu caguei para os seus flertes e que você me achou no Facebook e passou a pedir meu telefone. -William estava perdido nas palavras dela, tudo aquilo era verdade. Ele não tinha como argumentar- Você omitiu a parte que eu disse que não era mulher pra ser a outra, que não sabia ficar escondida e mesmo assim, você insistiu. Ficou de fora também a parte que você me disse que a vida era muito curta pra não satisfazer nossos desejos. Você não queria magoar ninguém, mas levou dois meses inteiros pra finalmente conseguir me comer, porque você não pensou em quanto isso era errado antes de me levar pra cama, seu babaca filho da puta? Agora você posa de arrependido, me dispensa e volta pra casa torcendo pra sua Renatinha te perdoar e fingir que tudo isso nunca aconteceu. E foda-se todo sofrimento que causou no caminho! Foda-se que eu passei esses meses com as suas migalhas esperando o dia em que teria você só pra mim. Você é um filho da puta babaca e arrogante, eu espero que ela jogue todas as suas coisas pela janela do apartamento e te mande arder no inferno.
Beatriz levantou-se e saiu do bar pisando fundo, William ficou ali absorvendo todas as palavras que ouvira enquanto observava o movimento no bar antes de seguir de volta pra casa na esperança que a conversa com Renata fosse menos desagradável.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Caminhos

Ela tinha os olhos vermelhos e inchados de chorar.
–Ele vai ser filho também. Você vai criá-lo, amá-lo ou não? – perguntou entre soluços
– Vou. - respondeu de forma ríspida - Tanto quanto amaria se adotássemos um bebê, a diferença é que uma criança adotada não seria filho de nenhum dos dois, mas você não aceita a ideia de criar o filho de outra pessoa. Se o estéril sou eu, que fique pra mim a responsabilidade de criar o filho de outra pessoa!
Ela abriu a boca pra responder, mas as palavras não saíram. Ficou apenas o olhando enquanto as lágrimas quentes molhavam seu rosto.
–Eu não aceito que gere o filho de outro homem! Ou será por adoção ou não teremos filho algum.
– Você está sendo egoísta! - Ela bradou, sua crescente tristeza agora se misturava com uma raiva recém chegada. - Eu sempre sonhei gerar um filho, ver a barriga crescer, sentir os movimentos.
– Perdão. - Ele disse num tom que a fez gelar. – Perdão por ser incapaz de lhe fazer um filho e roubar de você esse sonho. Por ser egoísta a ponto de não querer ver minha esposa gerando o filho de outra pessoa. Não vou deixar mais meu egoismo entre você e seu sonho.
Ela limpou as lágrimas da face com um sorriso aberto no rosto, ele a entendia. Correu então para abraçá-lo seriam em breve uma família. Depois de tantos anos tentando, tantos exames para entender porque não conseguiam, depois do terrível diagnóstico de que ele não produzia espermatozóides suficientes nem mesmo para a inseminação, finalmente eles seriam uma família. Mas, então ela percebeu, quando ele não permitiu o abraço, o que ele queria dizer com aquilo e sentiu o coração partir em milhares de pedaços, o mundo parecia girar de forma mais devagar. Ela queria gritar mas conseguiu apenas dar um gemido sufocado de dor.
– Não! Sem você não tem família, não tem sonho. Por favor. - Ela suplicou num sussurro.
–Nossos futuros são incompatíveis. Vou deixar você ser feliz, gerar seus filhos, vou te deixar em paz pra procurar um homem que seja capaz de fazer filhos.
E com essas palavras ele encerrou a briga e a história do casal. Arrumou as malas e saiu, no meio da noite.
Ela permaneceu de pé encarando o lugar no qual ele já não estava mais, só quando ouviu o carro saindo é que explodiu em lágrimas. Naquela noite ela chorou até dormir e depois chorou todas as noites por quase um ano antes de aceitar que ele não voltaria, e que era hora de voltar a viver. Somente sobreviver já não bastava.