segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Casa Pequenina

O cômodo todo branco tinha apenas uma cortina, também branca, na parede que escondia a janela e um bonito relógio prateado. No chão, de piso branco, algumas almofadas de diversas cores e tamanhos e uma mesa de vidro com um porta incenso em cima, sentada em uma das almofadas maiores uma mulher de pouco mais de 30 anos estava sentada em posição de meditação com um largo sorriso no rosto.
O casal havia brigado diversas vezes durante a construção da casa sobre aquele cômodo, ela fazia questão, ele achava desnecessário. Ela dizia que iria precisar de um lugar pra meditar, ele insistia que ela nunca meditara na vida, e ela respondia que só não fazia por falta de ambiente propício para fazê-lo, por fim decidiram que seria um quartinho no terraço. A casa então ficou assim: no primeiro andar uma saleta com um sofá de dois lugares, uma poltrona, um puff e uma mesa de centro, era a "sala de visitas",  a sala de estar, a cozinha, sala de jantar, o "escritório", que na verdade era mais um cômodo com o computador e uma estante com livros, e um banheiro, no segundo andar os quatro quartos da casa, afinal sempre quiseram uma família grande, e um banheiro e no terceiro um terraço com a lavanderia, que não passava de uma máquinas de lavar e um varal e o dojô (aquele tal quarto branco). Tinham ainda um quintal grande, com churrasqueira e uma piscina pequena. A casa era perfeita bem do jeito que eles sonharam.
O silêncio da meditação foi quebrado pelo som de um despertador ao fundo. A mulher se levantou e respirou fundo ainda com os olhos fechados, mas o som do despertador foi acompanhado de vozes, primeiro de uma criança, depois de outra e por fim a de um adulto "Você usa o banheiro do meu quarto e deixa sua irmã usar esse." Ela balançou a cabeça e abriu os olhos dando uma olhada no relógio, eram 06:07 h era hora do dia começar. Preparar o café da manhã, arrumar o filho caçula pra escola, se arrumar pro trabalho, levar os filhos pra escola, aquilo era só o começo de mais um dia, um longo dia. Entre suspiros ela agradeceu pelo marido ter aceitado a construção do dojô, afinal aqueles trinta minutos diários, sozinha ali no silêncio a faziam perceber o quanto tinha a agradecer e o quanto sua rotina diária, apesar de beirar o enlouquecedor era perfeita. "Vamos pra mais um dia" ela disse enquanto fechava a porta atrás de si, sem saber ainda que no seu ventre crescia uma nova vida, mais uma.