quarta-feira, 3 de junho de 2015

Caminhos - Aos Olhos Dele

Ele estava tentando ser paciente, sabia que aquela situação era passageira e que no momento em que ela voltasse a si ia perceber que não fazia sentido gerar o filho de outro homem. Desde que decidiram ser pais, ele sonhava com o rosto daquele bebe, teria os olhos azuis da avó dele, mas os cabelos negros dela, o sorriso dele, mas o queixo seria dela. Até que um dia depois de muito tentarem, e muitos exames feitos descobriram que ele não poderia ser o pai biológico, o único meio de adotarem uma criança seria inseminando nela o material genético de outro homem ou através da adoção e desde então todas as noites discutiam as opções, ele não abria mão da adoção, mas ela insistia em engravidar do filho de outra pessoa.
–Ele vai ser filho também.Você vai criá-lo, amá-lo ou não? – a pergunta dela o trouxe de volta a realidade.
– Vou. - respondeu de forma ríspida - Tanto quanto amaria se adotássemos um bebê, a diferença é que uma criança adotada não seria filho de nenhum dos dois, mas você não aceita a ideia de criar o filho de outra pessoa. Se o estéril sou eu, que fique pra mim a responsabilidade de criar o filho de outra pessoa! - ele respondeu de forma mais agressiva do que planejava.
Ela o olhava assustada e isso o encheu de coragem de falar o que estava entalado há dias.
–Eu não aceito que gere o filho de outro homem! Ou será por adoção ou não teremos filho algum.
Pronto! Aquilo encerraria a discussão.
– Você está sendo egoísta! - ela gritou com raiva e as palavras o atingiram de forma seca. Não era ele o egoísta naquela situação. Era ela quem queria que ele aceitasse a ideia de vê-la gerar o filho de outro homem, de ver no rosto de um bebê traços dela e de outro homem, era ela quem não não entendia como era difícil pra ele lidar com o fato de não poder realizar o maior sonho dela. Ela não via nada disso e ainda o acusava de estar sendo egoísta.
– Perdão. -aquela era a hora de finalmente encerrar aquela discussão.-Perdão por ser incapaz de lhe fazer um filho e roubar de você esse sonho. Por ser egoísta a ponto de não querer ver minha esposa gerando o filho de outra pessoa. Não vou deixar mais meu egoismo entre você e seu sonho.
Ela abriu um sorriso tão largo que ele teve vontade de gritar. Ela realmente não entendia, não havia nenhuma célula naquele corpo que compreendesse que ele estava magoado com ela, com a situação, com a vida. Então ela veio na direção dele, iria abraçá-lo? Não, claro que não! Ele a afastou e ao perceber o choque em seu rosto sentiu uma parte de si morrendo, mas não havia mais espaço para ele na vida dela, ele sabia disso e ela também.
– Não! Sem você não tem família, não tem sonho. Por favor. - ela gemeu.
–Nossos futuros são incompatíveis. Vou deixar você ser feliz, gerar seus filhos, vou te deixar em paz pra procurar um homem que seja capaz de fazer filhos.
Ele virou as costas e seguiu para o quarto, sentia a cabeça doer e os olhos arderem, queria chorar, gritar, xingar. Arrumou as malas o mais rápido que pode, não queria que ela o tentasse impedir. Jogou as roupas no carro e saiu no meio da noite para o único lugar que poderia lhe oferecer conforto naquela situação, a casa da mãe.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

A Mãe Solteira - Prólogo

Disclaimer: A história será reescrita e adaptada. Alguns personagens terão os nomes alterados, mas manterei a essência já que essa história é meu chamego.

A vida de Elisa era corrida; escola, cursinho pré-vestibular, ballet, inglês, capoeira e encontros do coral da igreja. Mal sobrava tempo pro namorado, Pedro ou pra melhor amiga Suzana. O plano era passar no vestibular de Engenharia Civil, fazer uma viagem de intercâmbio pra celebrar a nova fase e depois se debruçar nos estudos. Após a formatura se casaria com Pedro Henrique, numa festa linda, entraria na igreja completamente vestida de branco e encheria a mãe de orgulho. Não que ainda fosse virgem, mas ninguém além de Suzana, precisava saber desse detalhe.
Faltavam 2 semanas para a prova do vestibular e ela mal tinha tempo para respirar, sempre que estava em casa estava estudando, não via o namorado há umas duas semanas, mas só tinha tempo de sentir falta dele quando ia dormir. E como sentia falta dele e de Suzana também, mas faltava pouco, faltava muito pouco.
As duas semanas passaram mais rápidos do que qualquer outra semana que ela havia vivido e antes que se desse conta era o dia da prova. Acordou antes do sol, quando levantou da cama tremia tanto que mal conseguia ficar de pé, tomou um longo banho gelado e seguiu para a cozinha para o café da manhã; um copo de suco de maracujá e duas torradas, mas o café da manhã mal caiu no estômago e pediu para voltar, assim ela optou por fazer em jejum.
Dali em diante o dia foi um borrão, a ida para a prova, a prova em si, ela sentia-se semi consciente quando saiu da sala de prova, estava zonza, com a visão embaçada e de repente tudo escureceu. Quando abriu os olhos estava cercada por pessoas desconhecidas, não conseguia identificar nada que era dito no burburinho, lembrava de  alguém falar em ambulância, mas decidiu ir pra casa.
"Foi a fome" ela disse quando viu a cara de espanto da mãe após ouvir sobre o desmaio. "Eu não tomei café da manhã, juntou o alívio pelo fim da prova e o fato de eu estar em jejum, foi só isso."
"Quando você menstruou pela última vez?" Suzana estava deitada na cama e brincava com alegremente com um urso de pelúcia. "Veja bem, você vomitou e desmaiou num dia só, se sua menstruação estiver atrasada, você está grávida." Dizia de forma tão displicente que parecia não entender a gravidade do que dizia.
"Você fala como se isso fosse uma coisa boa, como fala como se um filho agora você uma possibilidade remota." Elisa respondeu, também de forma displicente. "Imagina só, a dona Rita aos prantos porque eu deflorei o filho dela antes do casamento, meu pai correndo atrás do Pedro com uma faca na mão e minha mãe morrendo de desgosto porque eu desgracei a família pecando contra a castidade. Seria o caos." ela completou de forma relaxada.
"Mas e o Pedro, como ele reagiria?" a pergunta de Susana a pegou de surpresa. Nunca pensara nisso antes. Planeja filhos com ele em futuro distante e sempre imaginava ele feliz com a notícia, uma gravidez aos 18 anos nunca havia sido uma opção e não imaginava como um Pedro recém ingressado na faculdade de direito reagiria a ideia de ser pai.. "Ele reagirá super bem, porque ele receberá quando nós dois formos casados há pelo menos dez anos, bem sucedidos e felizes." Elas mudaram de assunto algumas vezes até Suzana ir embora.
Pedro estava em provas na faculdade e por isso havia mandado só uma mensagem, combinaram de se ver na sexta, sairiam pra comer uma pizza e matar a saudade, depois se iriam pra casa de Vinicius, um dos melhor amigos dele pra matar ainda mais a saudade.
Já estava deitada na cama pronta para dormir quando tentou se lembrar da sua última menstruação. Definitivamente fazia mais de um mês.

domingo, 31 de maio de 2015

Os Últimos 6 Meses - Capítulo 2

William havia escolhido um bar diferente dos que eles costumavam frequentar, não queria que ninguém os visse, principalmente se a coisa saísse do controle. Quando chegou, Beatriz já estava lá, sentada em uma mesa próxima a cerca de madeira que contornava a área externa do bar. Ela tinha os longos cabelos escuros presos num rabo de cavalo alto e usava um vestido azul que marcava cada curva do seu corpo. Os lábios pintados com um batom vermelho vivo se abriram em um sorriso quando seus olhos se encontraram com o dele.
William se sentou de frente pra ela e sentiu o estômago afundar. Estava ensaiando aquela conversa há dias, mas sempre perdia a coragem quando pensava que as coisas podiam não sair como planejado.
O plano era simples, terminar com Beatriz e pedir perdão a Renata, mas e se Beatriz fizesse uma cena ou Renata não o perdoasse? O único modo de saber era tentando.
-Então? -Beatriz quebrou o silêncio - Qual o motivo do nosso encontro? Achou um apartamento?
Seu tom de voz era leve e animado. Desde que Renata descobrira sobre a traição ela havia assumido automaticamente o papel de namorada, falava em dividirem um apartamento, viagens e até em filhos e quanto mais planos ela fazia mais William pensava em Renata e na vida que os esperava.
Estavam sem se falar há quase três semanas, apesar de ainda dividirem o mesmo apartamento, e ele já não suportava mais aquela situação. E do outro lado da história, Beatriz ficara em êxtase quando soube que a outra já sabia de sua existência e havia terminado o relacionamento, estava tão encantada com a ideia que não percebia que não haviam se encontrado desde a última vez e que se falavam apenas através de mensagens e ligações.
-Não. -Responder apenas a última pergunta lhe pareceu a melhor opção
- Pensei em pedir vinho e uma tábua de frios, não pedi ainda porque pensei que talvez quisesse outra coisa.
- Foi um erro. -A principio ela achou que ele falava sobre o pedido, mas então ela percebeu o tom em que as palavras foram ditas e contorceu os lábios Foi bom, mas foi um erro. Eu fui idiota e imaturo e nem você, nem a Rê merecem um cara assim. Desculpa, mas não vamos morar junto, nem viajar e nem ter filhos. - A expressão dela era vazia de emoções com excessão das lágrimas que lhe enchiam os olhos. Nenhum dos dois falou por um tempo
O bar ia enchendo ao redor deles. Era possível ouvir conversas, risadas, garrafas abrindo, talheres e copos sendo usados e carros passando na rua.
- Eu não planejei nada disso, sabe. - Ele disse mais pra se mesmo, enquanto olhava os carros passarem na rua. - Eu nunca tive a intenção de trair a Renata, eu flertava sempre que saía sozinho, mas era inocente. Meus amigos diziam que era questão de tempo, mas eu confiava no meu caráter e a Rê confiava em mim. E aí você chegou, com uma gargalhada alta, falando palavrão e usando uma roupa sensual, sem se importar com seu peso. Você era tudo que a Rê não era, e isso era de mais pra mim. - Ele suspirou e voltou a olhar pra Beatriz, que agora parecia confusa. - Você era perfeita pra mim na mesma medida que ela, e eu quis ter as duas. Não pensei em ninguém além de mim, mas agora quero consertar isso. Nós dois, acabamos aqui. Você é linda, interessante e bem resolvida, vai encontrar alguém que te mereça.
Ela se manteve em silêncio, as lágrimas corriam pelo seu rosto. Ela sentia a raiva crescer em seu peito, secou o rosto com as costas das mãos e o encarou. Seus olhos faiscavam.
-  Você é um babaca, William. Um filho da puta de um cínico babaca. Espero que você tenho um discurso diferente pra Renata porque ela não vai gostar da parte em que você diz que flertava sempre que saía sozinho. Você veio com esse discursinho de merda se colocando como um coitadinho que agiu por impulso, mas esqueceu que eu não te dei confiança no dia que nos conhecemos, que eu caguei para os seus flertes e que você me achou no Facebook e passou a pedir meu telefone. -William estava perdido nas palavras dela, tudo aquilo era verdade. Ele não tinha como argumentar- Você omitiu a parte que eu disse que não era mulher pra ser a outra, que não sabia ficar escondida e mesmo assim, você insistiu. Ficou de fora também a parte que você me disse que a vida era muito curta pra não satisfazer nossos desejos. Você não queria magoar ninguém, mas levou dois meses inteiros pra finalmente conseguir me comer, porque você não pensou em quanto isso era errado antes de me levar pra cama, seu babaca filho da puta? Agora você posa de arrependido, me dispensa e volta pra casa torcendo pra sua Renatinha te perdoar e fingir que tudo isso nunca aconteceu. E foda-se todo sofrimento que causou no caminho! Foda-se que eu passei esses meses com as suas migalhas esperando o dia em que teria você só pra mim. Você é um filho da puta babaca e arrogante, eu espero que ela jogue todas as suas coisas pela janela do apartamento e te mande arder no inferno.
Beatriz levantou-se e saiu do bar pisando fundo, William ficou ali absorvendo todas as palavras que ouvira enquanto observava o movimento no bar antes de seguir de volta pra casa na esperança que a conversa com Renata fosse menos desagradável.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Caminhos

Ela tinha os olhos vermelhos e inchados de chorar.
–Ele vai ser filho também. Você vai criá-lo, amá-lo ou não? – perguntou entre soluços
– Vou. - respondeu de forma ríspida - Tanto quanto amaria se adotássemos um bebê, a diferença é que uma criança adotada não seria filho de nenhum dos dois, mas você não aceita a ideia de criar o filho de outra pessoa. Se o estéril sou eu, que fique pra mim a responsabilidade de criar o filho de outra pessoa!
Ela abriu a boca pra responder, mas as palavras não saíram. Ficou apenas o olhando enquanto as lágrimas quentes molhavam seu rosto.
–Eu não aceito que gere o filho de outro homem! Ou será por adoção ou não teremos filho algum.
– Você está sendo egoísta! - Ela bradou, sua crescente tristeza agora se misturava com uma raiva recém chegada. - Eu sempre sonhei gerar um filho, ver a barriga crescer, sentir os movimentos.
– Perdão. - Ele disse num tom que a fez gelar. – Perdão por ser incapaz de lhe fazer um filho e roubar de você esse sonho. Por ser egoísta a ponto de não querer ver minha esposa gerando o filho de outra pessoa. Não vou deixar mais meu egoismo entre você e seu sonho.
Ela limpou as lágrimas da face com um sorriso aberto no rosto, ele a entendia. Correu então para abraçá-lo seriam em breve uma família. Depois de tantos anos tentando, tantos exames para entender porque não conseguiam, depois do terrível diagnóstico de que ele não produzia espermatozóides suficientes nem mesmo para a inseminação, finalmente eles seriam uma família. Mas, então ela percebeu, quando ele não permitiu o abraço, o que ele queria dizer com aquilo e sentiu o coração partir em milhares de pedaços, o mundo parecia girar de forma mais devagar. Ela queria gritar mas conseguiu apenas dar um gemido sufocado de dor.
– Não! Sem você não tem família, não tem sonho. Por favor. - Ela suplicou num sussurro.
–Nossos futuros são incompatíveis. Vou deixar você ser feliz, gerar seus filhos, vou te deixar em paz pra procurar um homem que seja capaz de fazer filhos.
E com essas palavras ele encerrou a briga e a história do casal. Arrumou as malas e saiu, no meio da noite.
Ela permaneceu de pé encarando o lugar no qual ele já não estava mais, só quando ouviu o carro saindo é que explodiu em lágrimas. Naquela noite ela chorou até dormir e depois chorou todas as noites por quase um ano antes de aceitar que ele não voltaria, e que era hora de voltar a viver. Somente sobreviver já não bastava.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Os 6 Últimos Meses

O clima na casa era de pura tensão, os dois mal se falavam e a separação era eminente.
O jovem casal tinha quase 30, 29 ele, e 28 ela. Estavam juntos há 8 anos, sob o mesmo teto há 3. Chegaram a falar em oficializar a união, mas nunca passou de conversas na cama, enquanto planejavam o futuro. Planejavam trocar o pequeno apartamento alugado por um com 2 ou mais quartos, num condomínio com piscina e área para crianças. Os filhos estavam nos planos, um aos 35 e outro aos 40.
Ganhavam o suficiente para viajarem uma vez por ano, mantinham uma vida social agitada, eram um casal feliz e bem resolvido. Até que tudo mudou.
Era uma quarta-feira comum, ela estava sentada diante do computador enviando e-mails para clientes quando o celular vibrou anunciando uma mensagem, ao ver o nome dele na tela. "Estou contando as horas pra te ver de novo." - ela sorriu, fazia tempo que os dois não trocavam mensagens românticas. - "Hoje saio mais cedo e passo aí antes de ir pra casa.". Ela dispensou a carona da amiga e ficou esperando por ele, que não chegou nem as 16, 17 ou 18h, quando ela finalmente cansou de esperar e ligou pra ele enquanto caminhava até o metrô. Ele não atendeu e não retornou as ligações.
Ela estava no elevador quando o celular tocou, era ele. Ela não atendeu.
Chegou em casa mal-humorada e o encontrou sentado no sofá.
- Onde você estava até essa hora? - Ele perguntou em tom de brincadeira
-Esperando você, William! - A resposta dela foi ríspida. E ele se manteve em silêncio, a observando e tentando entender o que havia acontecido.Ela então sacou o celular e leu a mensagem em voz alta, e o rosto dele ficou pálido.
-Eu me enrolei, Rê. Desculpa. Ia sair mais cedo, te pegar, mas não deu.
-E custava me ligar e avisar? Ou atender as minhas ligações?
- Eu estava ocupado, Renatinha. Desculpa.
A conversa acabou ali. Ela caminhou pro quarto, sua cabeça doía. Ele sentado no sofá conferia as mensagens. Agora tudo fazia sentido, ele enviou a mensagem pra Renata. Por isso Beatriz se surpreendeu com a sua chegada.
Beatriz tinha 23 anos, estudante de veterinária, os dois haviam se conhecido num barzinho há 8 meses. Ela não parecia em nada com Renata.Tinha 1, 78 m de altura, a pele branca, os olhos azuis , não era magrinha e nem fazia o tipo atlético, os cabelos longos, lisos e escuros. Em nada lembrava a moça negra de 1, 55m e 49 kg, cabelos castanhos e crespos com quem ele morava há 3 anos. A companhia de Bia era agradável, ele gostava de estar com ela, o sexo era bom apesar das conversas não serem das melhores, estar com ela, deixava o dia mais leve.
William foi ao quarto chamar a namorada pra jantar e a encontrou dormindo. Beijou sua testa e manteve o resto da rotina noturna. Quando ele dormiu, Renata levantou da cama e indo contra todas suas convicções decidiu espiar o celular de William. Ela sabia a senha de bloqueio, já o tinha vista desbloquear o celular incontáveis vezes.
Enquanto lia as trocas de mensagens e declarações entre William e Beatriz, seu coração batia rápido. Ela queria gritar, brigar, quebrar as coisas, juntar as coisas e ir embora, mas só tinha força pra chorar.
William acordou e encontrou a namorada sentada no sofá com seu celular na mão, os dois se olharam, mas não disseram nada, ele voltou pra cama e ela permaneceu sentada no sofá.
Haviam passado dois dias desde aquela quarta-feira, e o clima na casa era de pura tensão. Os dois mal se falavam e a separação era iminente. William estava procurando um apartamento e assim que encontrasse iria se mudar. Renata também iria se mudaria assim que o contrato acabasse, mas nenhum dos dois havia dito isso ao outro em voz alta.
Enquanto olhava anúncios de apartamento na internet, William olhava o portal de notícias.
"Pesquisadores garantem que em no máximo 6 meses asteroide colidirá com a Terra." estava logo abaixo de "Nasa garante que boatos sobre asteroide são infundados e ridículos.". Ele observou Renata absorta em seus pensamentos sentada na pequena varanda do apartamento e pensou em quantas piadas disfarçadas planos para o apocalipse eles fariam. Sentia falta dela.
"Fujam para as colinas, o mundo vai acabar." Ele postou em um rede social, seguido do link sobre o asteroide.
- Um chifre e um asteroide?! Que semana, Renata, que semana. - Ela falou consigo mesma, enquanto lia a notícia



segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Casa Pequenina

O cômodo todo branco tinha apenas uma cortina, também branca, na parede que escondia a janela e um bonito relógio prateado. No chão, de piso branco, algumas almofadas de diversas cores e tamanhos e uma mesa de vidro com um porta incenso em cima, sentada em uma das almofadas maiores uma mulher de pouco mais de 30 anos estava sentada em posição de meditação com um largo sorriso no rosto.
O casal havia brigado diversas vezes durante a construção da casa sobre aquele cômodo, ela fazia questão, ele achava desnecessário. Ela dizia que iria precisar de um lugar pra meditar, ele insistia que ela nunca meditara na vida, e ela respondia que só não fazia por falta de ambiente propício para fazê-lo, por fim decidiram que seria um quartinho no terraço. A casa então ficou assim: no primeiro andar uma saleta com um sofá de dois lugares, uma poltrona, um puff e uma mesa de centro, era a "sala de visitas",  a sala de estar, a cozinha, sala de jantar, o "escritório", que na verdade era mais um cômodo com o computador e uma estante com livros, e um banheiro, no segundo andar os quatro quartos da casa, afinal sempre quiseram uma família grande, e um banheiro e no terceiro um terraço com a lavanderia, que não passava de uma máquinas de lavar e um varal e o dojô (aquele tal quarto branco). Tinham ainda um quintal grande, com churrasqueira e uma piscina pequena. A casa era perfeita bem do jeito que eles sonharam.
O silêncio da meditação foi quebrado pelo som de um despertador ao fundo. A mulher se levantou e respirou fundo ainda com os olhos fechados, mas o som do despertador foi acompanhado de vozes, primeiro de uma criança, depois de outra e por fim a de um adulto "Você usa o banheiro do meu quarto e deixa sua irmã usar esse." Ela balançou a cabeça e abriu os olhos dando uma olhada no relógio, eram 06:07 h era hora do dia começar. Preparar o café da manhã, arrumar o filho caçula pra escola, se arrumar pro trabalho, levar os filhos pra escola, aquilo era só o começo de mais um dia, um longo dia. Entre suspiros ela agradeceu pelo marido ter aceitado a construção do dojô, afinal aqueles trinta minutos diários, sozinha ali no silêncio a faziam perceber o quanto tinha a agradecer e o quanto sua rotina diária, apesar de beirar o enlouquecedor era perfeita. "Vamos pra mais um dia" ela disse enquanto fechava a porta atrás de si, sem saber ainda que no seu ventre crescia uma nova vida, mais uma.

sábado, 2 de junho de 2012

Primavera

Era impossível não amar aquele lugar, tudo ali era lindo especialmente no começo da primavera. A grama verde, o céu azul, as flores coloridas nos canteiros, os bancos brancos, os casais felizes, as crianças correndo, as mães conversando,  a brisa fria - último suspiro do inverno que ia embora -, o sol aquecendo a pele. Ela sorriu, fechou os olhos e soltou os cabelos, queria sentir o vento bagunçando seus cachos e mais nada. De olhos fechados sentiu uma sombra em sua frente, sabia que ele havia chegado, apertou o olhos. Sabia quais a intenções dele com ela, sabia a razão dele procurá-la de vez em quando, sabia que aquilo era passageiro, mas não queria se importar com aquilo, afinal mesmo que só por uma noite era divertido pra ela também.
Quando ela abriu os olhos, ele estendeu a mão e a ajudou a se levantar. Os saíram de mãos dadas até o carro dele e ela deixou que todo seu medo de sofrer no fim naquela noite, quando deitasse sozinha em sua cama, escapasse num longo suspiro.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A Hora da Verdade!

Segundas eram horríveis, segundas de friozinho e chuva eram piores, mas segundas de friozinho e chuva depois de um feriado prolongado eram quase como tortura!
Marcelle levantou as 5h como sempre, as 7h deixou a filha na creche e as 8: 15h chegou no trabalho, as 16h saiu do trabalho, as 17h pegou a filha na creche e deixou na casa da mãe, as 18h entrou na faculdade, as 22:30 pegou a filha, já dormindo, na casa da mãe e seguiu pra casa. Tirando a vontade insana de voltar pra cama que a perseguiu durante todo o dia, aquela era uma segunda feira normal! Mas nenhum dia é igual ao outro, nunca!
Ao se aproximar de casa percebeu que havia um casal parado no portão, e ao perceber de quem se tratava pensou primeiro em passar direto, depois em passar por cima e nessa hora deu uma risada. Estacionou o carro no portão e desceu pra abrir a garagem, nem olhou pros dois que também permaneceram em silêncio. Voltou pro carro e enquanto o colocava na garagem ouviu Dayane dizer "Mas cadê a criança?". Marcelle encostou a cabeça no volante, respirou fundo, contou até 10 e depois até 20, tudo que mais queria é que a filha conhecesse o pai, mas não queria que ele a procurasse só porque a namorada estava com vontade de brincar de casinha.
Pegou a pequena no colo e com o coração apertado virou-se pro casal parado no portão: "Não posso ficar parada no sereno com a minha filha no colo, se vieram pra fazer algo além de ficar me olhando é melhor subirem." Deu as costas aos dois e subiu as escadas na esperança de que tivesse sido grossa o suficiente para que eles dessem meia volta e as deixassem em paz.
Colocou Letícia no berço e voltou pra sala onde encontrou os dois parados na porta da sala.
"Será que a gente pode entrar?" Dayane perguntou, tentando parecer doce.
Marcelle respondeu apenas com um gesto com as mãos, e enquanto os dois entravam sem jeito ela perguntou: "-Fecharam o portão?"
"-Não, a gente não sabia se você ia deixar a gente entrar" Novamente Dayane respondeu.
Sem dizer uma palavra, já que qualquer coisas que falasse seria ofensiva ela desceu as escadas e fechou o portão. Enquanto subia as escadas ouviu a voz de Leo a primeira vez "-Acho que é ciúme de você.".
Ela entrou em casa, fechou a porta e explodiu: "-O que vocês vieram fazer o que? Porque eu passei os últimos 16 meses sozinha com a minha filha, isso se não contar os 9 meses de gravidez! Gravidez essa que o senhor queria que eu interrompesse, lembra? Pois é! E agora vocês chegam aqui pra que? Se vieram atrás da minha filha pra brincarem de casinha as custas dela não vai rolar! Se o senhor fosse um homem responsável de verdade teria vindo conhecer a sua filha antes e não só quando a sua namoradinha tivesse vontade de brincar de ser mãe por algumas horas e antes de qualquer coisas esvazie esse seu ego, porque eu não estou com ciúme dessa moça, não tem nem porque eu ter ciúme dessa moça, dela eu tenho apenas pena, porque ela arranjou um moleque mimado pra namorar, um palhaço que não tem capacidade de assumir a filha que fez e que até nunca havia procurado a menina, um imbecil que usa a filha como meios de conquistar mulher!"
Ao acabar de falar ela deu um suspiro aliviado, estava se sentindo leve.
"-Acho melhor a gente ir embora então." Disse novamente Dayane.
"-Fiquem a vontade." Marcelle respondeu.

Marcelle ficou parada na porta até que os dois fechassem o portão, depois trancou a porta e se acabou de chorar!
As lágrimas eram uma mistura de raiva, alívio e medo. Afinal se Leo procurasse seus direitos, nos fins de semana ela perderia as 24 horas com a filha e isso era apavorante.

terça-feira, 8 de março de 2011

Hora da Verdade ?

As malas estavam prontas, ele estava animado afinal de contas aquela seria a última viagem dos 5 amigos, solteiros. Já que um deles iria se casar em menos de 6 meses, claro que nos últimos 10 anos muita coisa havia mudado, Pedro, o dono da casa onde eles passavam TODOS os feriadões e férias, e Guto já tinham filhos, Mauricio estava noivo e até Alex e Leo os solteiros haviam mudado bastante entre os 16 e os 26. No começo os 5 iam de ônibus, depois iam os 5 no mesmo carro, eles sempre iam sozinhos, sempre! Todos tiveram namoradas nesse meio tempo, mas elas nunca iam junto, aquela era a viagem deles. Mas nesse ano, a ex namorada de Guto havia decidido viajar também, então os filhos ficariam por conta dele e para não cancelar a viagem ele levaria as crianças, por conta disso Pedro se animou e decidiu levar sua filha também. Os cinco haviam batido boca em relação a isso, crianças estragariam a viagem e bla bla. Mas por fim decidiram que Pedro levaria a filha, Guto levaria os dois filhos, Mauricio iria com a noiva, Leo levaria a namorada e Alex iria sozinho. Viajaram então em 2 carros, Alex, Leo e sua namorada e Pedro e a noiva iriam em um carro e Guto, Mauricio e as crianças iriam em outro.
A viagem foi tranqüila, no carro “das mulheres” as duas tricotavam sobre a vida e sobre os planos pro feriadão e pra vida. Enquanto Alex se concentrava na estrada e Mauricio batucava no porta luvas, na parte de trás, sentado ao lado das duas mulheres, Leo se concentrava na janela e tentava não prestar atenção na conversa que lhe parecia completamente desnecessária. “-Eu disse pro Mau, que isso de trazer crianças era furada. Eu detesto crianças, por isso que vamos casar, mas nada de filhos.” Laís, a noiva de Mauricio disse, despertando a atenção de Leo, já que não tinha ideia na opinião de sua namorada sobre filhos, afinal evita tocar no assunto. “-Eu quero filhos, logo! Não vou ficar esperando muito não,” a voz de Dayane soou pesada no ouvido de Leo, “Então vai arranjar um namorado novo, Day? Porque esse seu aí tem medo de criança”. A indireta de Alex foi entendida apenas pelos homens no carro.
No resto da viagem apenas conversas sobre coisas sem importância.
Durante os 4 dias que permaneceram no litoral eram as crianças quem ditavam o ritmo da viagem, elas acordavam e a casa acordava junto, elas decidiam a hora de voltar da praia e de dormir. Na última noite de viagem, Leo e Dayane estavam deitados na rede, eram os únicos acordados na casa. “-São lindos eles, né?" Ela suspirou olhando pela janela as crianças dormindo na sala. "Me deu mais vontade de ter um desses.” Leo passou a mão nos cabelos da namorada, e respirou fundo, ele gostava dela, não tinha como negar e já havia pensado em passar o resto da vida com ela, então não era mais certo guardar um segredo desse tamanho. “-Eu já tenho uma filha.” Ele disse de supetão, antes que se arrependesse de revelar o seu grande segredo.

sábado, 29 de maio de 2010

Noite de Sexta

O relógio marcava 23:45 h e com apenas 2 quarteirões de distância, cada um se preparava para a noite de sexta como se vivesse em um mundo completamente diferente do outro. Ele já havia tomado banho, bagunçado propositalmente os cabelos e vestido a tal blusa preta da sorte; ela estava com a mesma roupa desde de manhã, os cabelos estavam bagunçados mas por conta da correria do dia e banho era algo que não havia experimentado desde a hora que acordou. Ele iria para o barzinho do bairro, com os amigos e a namoradinha para beber e falar besteira até o dia amanhecer; ela iria esperar a filha dormir para tomar banho, jantar e dar mais lida na matéria, afinal não precisavam acordar cedo no sábado nem ele e nem ela. A campainha tocou, ele se despediu da mãe e saiu com um sorriso no rosto, a namoradinha vestia um micro vestido preto e demostrou a ele que a noite não terminaria no bar e sim cama; a pequenina abriu os olhos e gargalhou quando foi colocada no berço, e ela sorriu ao perceber que a noite não terminaria nos livros e sim com a filha. E assim, com apenas poucos quarteirões de distância, cada um vivia a sua vida, como se vivessem em mundos diferentes e não tivessem nada em comum.